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22 março 2013

Talvez Cinderela

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Imagem encontrada em http://weheartit.com/entry/55710625/via/millafreitas
Ela era sonhadora, voava alto em seus pensamentos, quase sempre alcançando as nuvens. Seu sonho era um romance digno de filme. Um sapatinho de cristal deixado e encontrado por seu príncipe, como em um conto de fadas. Cabeça nas alturas mantendo os pés no chão. Ela não o conhecia, nem sabia seu nome. Nunca havia o visto, mas já o tinha em mente. Sua regra era simples, teria de ser um príncipe encantado, ou não seria o cara certo. Ele era como um príncipe e tinha milhares de encantos. Apenas um pequeno problema, eles ainda não se conheciam.

Era uma sexta-feira e todos estavam combinando a programação daquele final de semana. Ela não tinha nada para fazer então que tal mais uma tentativa de encontrá-lo naquela noite? Seria uma boa. Telefone na mão, mensagem enviada. Amiga recrutada, destino definido: Shopping. Nada mais comum para adolescentes paulistanas em uma noite de sexta-feira. O filme que assistiriam no cinema seria decidido quando fossem a bilheteria, mas qualquer romance a agradaria. Vestiu uma roupa rapidamente, uma legging de estampa floral em um tecido que permitisse tranquila e confortavelmente muitas voltas em todos os corredores do shopping, com um suéter cinza de lã. Suas botas preferidas nos pés. Pegou a primeira bolsa que viu, olhou para a tela do celular - a esperança de algum sinal divino vindo de seu admirador totalmente desconhecido e não existente era interminável - e frustrou-se mais uma vez ao não encontrar nada. Colocou sua carteira, fones de ouvido, necéssaire e outras pequenas utilidades dentro da bolsa. Saiu apressada, já passavam das 19h30. Encontrou-se com sua companhia para que aquela não fosse uma noite solitária. Não houve muita diferença, quietas permaneceram durante todo o tempo juntas, apenas observando, simples olhares e palavras compartilhados apenas para que o tempo tentasse passar mais rápido. Se distanciaram, e resolveram que enquanto uma comprava um café, outra iria a livraria. Lugar perfeito para se encontrar um príncipe encantado.

Não havia lugar mais aconchegante do que aquele. Estar em meio aqueles livros era revigorante e lhe trazia a sensação de que ele poderia estar mais próximo do que se imaginava. E talvez realmente pudesse estar. Era ele, ela sentiu. Olhos castanhos, cabelo escondido em um gorro cinza, jaqueta marrom. Andar decidido e olhar curioso. Estava com um de seus livros favoritos na mão, com certeza aquilo era obra do destino. Ele fazia completamente o seu tipo, mas que príncipe mais encantado! Folheava-o com grande interesse, apreciava a capa e cada palavra ali escrita. Virou-se lentamente, talvez em busca de um vendedor para consultar o valor da obra, e acidentalmente seus olhares se encontraram. Ela estava ali, paralisada, analisando cada centímetro da possível representação de seus sonhos, como quem acabara de ver uma miragem. Virou-se novamente para a posição inicial, com certeza ele não havia sentido a mesma coisa ao vê-la. Frustrante. Mas ela não poderia desistir ali, Cinderela precisou de seu sapatinho para ter seu final feliz, ela precisava apenas de algo deixado para ser notada. Queria ela que fosse um beijo, quem sabe uma pequena conversa. Porém sua timidez era maior que isso, teria de ser qualquer objeto, com certeza ele a devolveria e eles iniciariam uma conversa. Ela o diria que aquele em suas mãos era seu livro favorito e contaria mais sobre como adora ler, ver filmes e ouvir músicas antes de dormir. Ele com toda a certeza seria tão apaixonado por livros quanto ela e eles assistiriam a muitos filmes e ouviriam músicas antes de adormecer juntos. O diálogo já se iniciava imaginariamente em seus pensamentos, e já iam muito além. Quando resolveu que deixaria o bloco de notas que carrega em sua bolsa cair próximo a ele, e dali todos os seus desejos se realizariam. 

Respirou fundo e corajosamente seguiu em sua direção. Passou próxima a ele e cuidadosamente, tentando fazer com que parecesse o mais acidental possível, jogou o pequeno bloquinho de capa amarela no chão. Continuou andando e parou para que pudesse ver a reação de seu futuro príncipe. Decepcionante. Ele não olhou para o chão, nem ouviu o barulho - que para ela foi estrondoso - do pequeno sapatinho de cristal de nossa Cinderela cair. Devolveu o livro que estava em sua mão para a estante, e se dirigiu para a saída. Ela o perdeu de vista e lá se foi seu príncipe encantado de todos os sonhos. Viver sua simples realidade. Talvez se o bloco de notas fosse notado as coisas se tornariam diferentes. Ou talvez não... Afinal, quem é que sabe? Com certeza ela não tinha essa resposta, mas uma coisa ela sabia a partir daquele momento: boas histórias só tem finais felizes verdadeiros quando não há nenhum roteiro a ser seguido.

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