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14 agosto 2013

Perdoado

Seguindo o mesmo caminho de todos os dias, com os passos cada vez mais pesados e a cabeça atordoada, enxergava a tudo sem estar vendo nada. Estar naquela rota era apenas seguir a correria de viver a rotina, e mesmo levando horas, em alguma delas estaria lá. Em casa, no mesmo lugar. Apenas mais um dos inúmeros apartamentos do simples edifício sem cores vivas da terceira rua a esquerda. 

A ironia do clima era perturbadora, quem diria estar havendo uma enorme tempestade em seu corpo naquele lindo final de tarde ensolarado. O sol brincava de se esconder entre poucas nuvens enquanto tardava a se por. Talvez evitando que a lua aparecesse com aquele sorriso debochado. Alguns metros e a porta estaria ali, a sua frente. Esperando para ser tocada, aguardando para ser aberta. As palavras engasgadas, as duvidas ignoradas. Chegou sem nem se lembrar dos últimos passos percorridos e apenas apertou aquele pequeno botão que então gritaria "ei, eu estou aqui e poderemos conversar." Passos foram escutados, seu coração disparou, as mãos trêmulas e suadas, o rosto já vermelho. A porta então foi aberta. 

E ali estava ele, com o mais tímido dos sorrisos, pedindo por uma nova chance sem nada dizer, os olhos cheios de esperanças, o peito cheio de expectativas. Um silêncio. Um medo em comum. Uma iniciativa. Sorriso retribuído, olhos nos olhos. Aquela aproximação, vocês sabem o próximo passo. Um beijo e tudo estava resolvido. As palavras eram dispensadas, não era preciso dizer mais nada. Afinal, ninguém é idiota por acreditar no amor. "Tá perdoado" disse ela, em um sussurro que gritava para ser escutado com valor. E ali estavam preparados, para um novo começo, uma nova chance ao felizes para sempre. Ou enquanto o amor durar.

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